top of page

Mi bisabuela, la que adivinó su muerte

Gente querida: Comparto con ustedes parte de una hermosa contribución de mi amiga Vilma Barban, que realizó una entrevista al Mestre Bastião, de Minas Novas, Minas Gerais. Como éste es un espacio destinado a mujeres poderosas, sólo incluiremos el fragmento en el que Bastião habla de su bisabuela, una "india escapada" que escondía su cuerpo para no mostrar las marcas del látigo, y que adivinó el día de su muerte.

Mi abrazo a Vilma, y esperamos ansioso/as sus entrevistas con mães de santo.

Em nossa conversa, Mestre Bastião, conta de sua linhagem. Ele lembra sua bisavó, Tereza, que era uma índia fugida, de Salina. Fumava cachimbo e era mãe do seu avô Artur, que foi quem o criou e ensinou as artes de tamboreiro. Dona Tereza segundo diz era índia fugida que se escondeu no mato e foi ‘pegada por cachorro’ do caçador, que a encontrou. Ela talvez não foi escravizada, mas alguém perto dela foi, pois ela contava e escondia o corpo, não gostava de mostrar, pois tinha sinal de chicotada e também outra mulher por perto, da. Rosa, que tinha marcas de ferros nos pés.

Minha bisavó, ela adivinhou o dia que ela ia morrer. Tereza. Não, uma (...) essa que eu estou falando que adivinhou o dia que ela ia morrer é minha avó Tereza, essa outra é a (Florzina), essa daí coitada, nem em casa ela morreu, foi, saiu para ir na casa de um compadre dela e morreu na casa do cara (...), nem ela sabia que ela ia morrer.

Já minha avó não, ela mandou arrumar tudo, mandou outra minha avó na chapada comprar fumo e cachaça, e mandou nós ir buscar lenha para acender fogo. E como se fosse (...) cinco horas, ela foi, tomou banho, num córrego que tem lá (...) e voltou e (...). (...) nós estávamos chegando do mato com aqueles fecho de lenha, jogou lá no terreiro e ela falou assim, “a comadre (Florzinha) está demorando, eu falei que é capaz de chegar mais cedo.

(Daqui a pouco minha avó pontuou do outro lado lá) (...) e ela entrou para dentro para trocar de roupa, minha avó foi chegando e ela (perguntou para a minha avó assim), “oh, comadre, a senhora trouxe a pinga e o fumo?” (...) (pica o fumo para mim e põe no pito ai). Pito é aquele feito de barro, um cabo assim, e ai minha avó picou o fumo e pôs no pito, no cachimbo, uns falam pito e outros falam cachimbo, aqueles cachimbão de barro, botou fogo e ficou fumando.

Aí minha avó falou para ela assim, “oh, comadre Tereza, eu não estou entendendo (...) esses meninos buscar”. Ela disse, “não, eu vou precisar hoje comadre, a senhora não está sabendo não? Para que essa lenha, vai vir gente aqui hoje” e trouxe.

Minha avó, ela acabou e morreu.

E ai já saiu para chamar o pessoal e a acender o fogo a noite porque usa (...) até hoje a lenha ainda usa (...) quando morre uma pessoa (na roça) acende o fogo lá no terreiro. Esse fogo, ele é uma história, ele é uma cultura, é uma cultura do passado e da continuação (...), até aqui na cidade mesmo, é obrigado a acender o fogo.

Em alguns lugares (principalmente) esse fogo, e se tiver assim uma pinguinha para tomar a noite, não manda ninguém beber não, mas tem que ter aquela pinguinha lá. Tudo isso é cultura do passado, tem que ter uma pinguinha lá. Porque antes, eu vou contar isso, porque o significado da pinga, é porque antes, quando morria uma pessoa lá na comunidade, naquele tempo não tinha estrada, não tinha carro, não tinha nada, eles levavam, podia dizer, o cadáver para enterrar baseado no gole, porque era muito pesado. Então aquela pinga Mará, aquela Mará que a gente tomava, (tomei muito) (...), aquele Mará dava uma energia, para você aguentar subir os morros, você está compreendendo? Então, o (...) é uma história que vem de um passado, hoje (...) que acontece ai, “ah, não sei o que, não pode beber pinga e não sei o que”, não pode beber e nem nada de beber, mas tem que ter aquela pinguinha lá. Se alguém falar assim, “espera ai, põe uma pinguinha ai” Porque essa história disso, acontece isso, eu posso falar?

É um espírito que pede a pessoa para tomar, principalmente se aquele falecido tomava. Então é isso. E a história que muitas vezes, coisas que muitos na minha idade esqueceram, que existiu. Essas coisas que é uma cultura, é viva, uma cultura viva, e a gente não pode deixar de falar sobre essa cultura, desse passado de milhares de anos (...).

Então é muito longa a história, o cordão é muito comprido, é um laço e ninguém vê a ponta dele não, você só vê o pé dele, mas a ponta está muito além.

O Museu da Pessoa registrou a história do Mestre Antônio, que é apresentada no seu livro impresso e faz parte do acervo na página de internet - www.museudapessoa.net

Este texto é parte de entrevista realizada em fevereiro/2013 e parte do Relato da Pesquisa no Quilombo do Macuco, Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.

Disponível em www.ancestralidadeafricana.org.br

La fotografía corresponde a doña María Lucimar Pereira, y fue tomada de cabestro.blogspot, con el correspondiente agradecimiento.

Abuela de Acre.jpg

Último post
Post recientes
Tags
Sígame
  • Facebook Classic
  • Twitter Classic
bottom of page